sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Wanderléa volta em grande forma - Novo trabalho areja repertório inédito e mostra a cantora madura


Se Roberto Carlos já é tradição no fim de ano, Wanderléa é uma grata surpresa. A cantora lança Nova estação, seu novo CD, pela Lua Music. Em ótima forma vocal e com repertório caprichado, esse é o primeiro disco de Wanderléa em cinco anos. Nova estação vai além de matar saudades: é o disco que Wanderléa merecia realizar há muito tempo. Sua carreira pós-Jovem Guarda ainda não foi muito compreendida. Nos anos 70 a cantora enveredou por caminhos que a levaram a repertório de compositores como Egberto Gismonti, Fátima Guedes e Jorge Mautner. Na década seguinte voltou a tocar em rádio com baladas populares. À revelia de sua carreira discográfica, sempre rodou o país com shows que relembram a Jovem Guarda. São poucos os que sabem que Wanderléa é bem mais interessante do que a festa nostálgica de Ternura e Pare o casamento. O novo disco tem repertório muito bem selecionado pelo produtor Thiago Marques Luiz. A produção musical fica a cargo de Lalo Califórnia, marido de Wanderléa e seu músico há mais de 20 anos. Juntos, os três elaboraram um roteiro coerente e com ótimas surpresas, trabalhado com capricho para um disco moderno, antenado como Wanderléa. Um bem vindo espaço para (re)conhecer a artista. Hoje Wanderléa é uma cantora de muitas possibilidades. Pode ir muito bem desde o bolero Mil perdões, de Chico Buarque, até o samba Chiclete com banana, de Gordurinha e Almira. Nessa imprime ares da irresistível pilantragem do Trio Mocotó e mistura com Adeus América e Eu quero um samba em arranjo da própria cantora. Sem medo de encarar repertório de Elis Regina, abre o disco com Nova estação, belíssima balada de Luiz Guedes e Thomas Roth. Ainda derrama sentimento em um medley que junta Eu e a brisa e O que é amar. Os eternos parceiros Roberto e Erasmo são lembrados em duas músicas. Em um dos melhores momentos do álbum Wanderléa pesca o ótimo e obscuro Samba da preguiça, que já havia sido gravada pelo Trio Mocotó e por Nara Leão. Mais para o final do disco ela volta aos compositores no protesto pacifista Todos estão surdos, com participação de Dudu Braga, filho do Rei, nos vocais e bateria. A crítica social também está na releitura de A banca do distinto, que Billy Blanco escreveu para Dolores Duran. Doce, deita a voz na ensolarada Dia branco, de Geraldo Azevedo, e requebra no excelente Choro chorão, achado no repertório de Martinho da Vila. Com citações do clássico Delicado, de Waldir Azevedo, nessa música Wanderléa é acompanhada pelo grupo de chorinho paulistano Ó do Borogodó. Se depois de passar por todos os ótimos momentos ainda restar alguma dúvida das possibilidades de Wanderléa, ainda tem Mais que a paixão, difícil canção de Egberto Gismonti que fecha o disco. Ou voltar até o toque jazz de My funny valentine. Em seu último trabalho Wanderléa relia alguns sucessos e pinçava momentos da carreira. Há mais de uma década sem arejar repertório inédito, Wanderléa está com energia renovada nesse iluminado Nova estação. Caprichado, muito bem dirigido e com a artista em sua melhor forma. Um disco que pode, enfim, mostrar a cantora madura e inteligente que Wanderléa se tornou.

Ziriguidum - Por Beto Feitosa

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