sábado, 13 de setembro de 2008

Livro relaciona mar de Caymmi à onda da bossa


Neta de Dorival Caymmi (1914 - 2008), a jornalista Stella Caymmi já tinha reconstituído a trajetória do avô na biografia Caymmi - O Mar e o Tempo (Editora 34, 2001). Neste segundo livro sobre a obra do compositor, Stella dá boa contribuição à bibliografia do artista ao defender a tese interessante de que a obra de Caymmi foi bem recebida de imediato pelos bossa-novistas pelo fato de já antecipar a modernidade e as conquistas harmônicas que seriam oficializadas na música brasileira a partir de 1958 com a gravação de Chega de Saudade por João Gilberto. Caymmi e a Bossa Nova, a propósito, é livro baseado na dissertação O Portador Inesperado - A Obra de Dorival Caymmi (1938 - 1958), defendida pela autora em 2006. A abordagem é original e interessante, ainda que - para o público em geral - o livro tenha páginas de difícil assimilação, já que nem sempre a autora consegue se livrar da linguagem acadêmica. Sobretudo quando apresenta os cânones da Estética da Recepção, teoria literária surgida na Alemanha em 1967. É através dessa Estética da Recepção que Stella mostra como a percepção da obra de Caymmi foi alterada a partir do surgimento da Bossa Nova. Antes, no período que vai de 1938 a 1958, os críticos tendiam a enquadrar o cancioneiro de Caymmi em rótulos regionais e, não raro, a carimbavam com a pecha de folclórica. A partir de 1958, com as conquistas advindas com a bossa hoje cinqüentenária, esse mesmo cancioneiro é (mais bem) compreendido em toda sua antecipadora modernidade e intuitiva sofisticação. Moral da tese defendida pela autora: a onda da Bossa Nova também se ergueu no mar de Dorival Caymmi. Por isso, ele foi bem recebido pela turma que renegou outros compositores projetados nos anos 30 - como Noel Rosa (1910 - 1937). Enfim, um olhar com bossa sobre uma obra que vai sobreviver ao tempo e às ondas da música brasileira.

Resenha de livro

Título: Caymmi e a Bossa Nova
Autor: Stella Caymmi
Editora: Ibis Libris

Blog Notas Musicais - Por Mauro Ferreira

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