quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Gravação rara de João Gilberto cai na rede

Aconteceu tudo muito rápido, como agora é de costume. Uma gravação rara de João Gilberto, e já mencionada por Ruy Castro em seu livro Chega de saudade (Cia. das Letras, 1990), caiu na rede. Aí já viu. Feito na casa do fotógrafo Chico Pereira (das históricas capas da gravadora Elenco), o registro traz 38 faixas, entre canções e conversas, e é datado de 1958 (mesmo ano do Canção do amor demais de Elizeth Cardoso, no qual o violão bossa nova de João apareceu pela primeira vez, e um ano antes do primeiro disco do violonista). Até há poucos dias estas gravações estavam no escaninho das “Lendas da bossa nova”, adormecidas em algum lugar por 50 anos. Quem lançou a pérola foi o blog Toque Musical, e a dobradinha Vitrola e Trabalho Sujo logo tratou de espalhar. Apoiado em reportagem do programa Metrópolis (TV Cultura), o jornalista Ronaldo Evangelista, do Vitrola, escarafunchou aqui um pouco sobre a vinda ao mundo dessa gravação, com direito a aspas do engenheiro de som Christophe Rousseau, o responsável pela recuperação do áudio (e totalmente favorável ao compartilhamento desse Registros na casa de Chico Pereira em 1958). Mas algo estranho, e ainda não esclarecido, aconteceu entre quinta e sexta. O primeiro link disponibilizado pelo Toque Musical desapareceu. No final da sexta, o próprio blog saiu do ar. Por outro lado, o arquivo continua disponível no esquema torrent lá no Som Barato. Blá blá blá, e o som de João? Tá lá, simples e rebuscado, todo prontinho. Mandando em seu violão clássicos futuros, tais como “Desafinado” (Tom Jobim e Newton Mendonça), “A felicidade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “Lobo bobo” (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli), “Bim bom” (João Gilberto), “Caminhos cruzados” (Tom Jobim e Newton Mendonça), “Chega de saudade” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e “Saudade fez um samba” (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli); sambas como “Aos pés da cruz” (Zé da Zilda e Marino Pinto), “Doralice” (Dorival Caymmi), “Lá vem a baiana” (Dorival Caymmi), “Louco” (Wilson Batista e Henrique de Almeida), “É luxo só” (Ary Barroso e Luis Peixoto) e “Rosa morena” (Dorival Caymmi); e algumas que nunca gravou, e dá-lhe “Mágoa” (Tom Jobim e Marino Pinto), “Beija-me” (Roberto Martins e Mário Rossi), “João Valentão” (Dorival Caymmi), “Nos braços de Isabel (Silvio Caldas e José Judice), “Chão de estrelas” (Orestes Barbosa e Silvio Caldas) e “O bem do amor” (Carlos Lyra e Nelson Lins e Barros). Sempre diferente, sempre mudando as letras, vocalizando blim-bloms, com cachorro latindo ao fundo (durante “Um abraço no Bonfá”, do próprio João), barulhos na sala, brincadeiras, estímulos, baianidades, tudo caseiro e relaxado. Corra atrás, ouça e seja uma pessoa melhor. Mesmo que a qualidade da gravação não seja lá essas coisas.

Gafieiras - Por Dafne Sampaio

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