quarta-feira, 18 de junho de 2008

O fantástico mundo dos CDs oficiais

Se existe um lugar onde a crise da indústria da música não chegou, é a Amoeba Records, loja gigantesca da Califórnia sobre a qual tanto falo. Recentemente, baixei ali três vezes. Estacionamento lotado, filas nos caixas. Não é barateira: CDs a US$ 15. Você dá valor ao que compra ali, escuta direito. Nada de faixas esparsas e defeituosas baixadas na internet. CDs oficiais, engarrafamentos em LA. Cenário pronto para ouvir álbuns do início ao fim, com atenção. E assim a gente descobre... ...que até um CD que traz fotos de dois hippies nojentos sem camisa pode ser cheio de ótimas idéias bem costuradas por um produtor. Mesmo vindo de uma banda que, desde o começo do ano, é alvo de ridículo na web, por causa da ruindade de seus shows. Falo de "Oracular Spectacular", do MGMT. ...que a mente inquieta do produtor Danger Mouse vai buscar "samples" até no brega italiano de Nico Fidenco. E que Nigel Godrich, produtor do Radiohead, andou ciscando por ali. Falo de "The Odd Couple", da dupla Gnarls Barkley. Um disco tão perfeito, mas tão perfeito, que seria... perfeito demais? ...que dois caras que respeito e admiro, Gregg Dully e Mark Lanegan, acabaram acreditando no próprio mito e fizeram um CD que parece ser não deles, mas dos personagens em que se transformaram. É "Saturnalia" , dos Gutter Twins (gêmeos da sarjeta). ...que nem a mais fantástica fábrica de jabá sustenta um álbum fraco, frio e sem foco. Sintonize uma rádio alternativa dos EUA. Espere de cinco a dez minutos. Vai tocar "L.E.S. Artistes", a primeira faixa desse embuste, "Santogold" , da cantora homônima. Uma sessão de karaokê, tamanha a desconexão do repertório. ...que sempre me dou mal quando sigo discas do staff nerd da Amoeba Records. Um dos CDs que mais elogiam é "I Need You to Hold on While the Sky Is Falling", de Kelley Polar, eletrônico "lite". Do Brooklyn direto para a lata de lixo.

Folha de S. Paulo - Por Álvaro Pereira Júnior

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