segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sai de cena Caymmi, gênio atemporal da MPB

Dorival Caymmi - o Buda Nagô, na definição muito apropriada de Gilberto Gil - não sai de cena com sua morte, ocorrida na manhã deste triste sábado, 16 de agosto de 2008. Em seus 94 anos de vida, Caymmi deixa como herança obra sem paralelos na música popular brasileira. Obra relativamente pequena (cerca de 120 músicas) para sua longa trajetória, mas de uma grandeza ímpar e imensurável que vai manter vivo, ao longo dos tempos, seu autor, nascido em Salvador, na sua amada Bahia, em 30 de abril de 1914. Sem se inserir em nenhuma corrente da música brasileira, a música de Dorival Caymmi - nascida na segunda metade nos anos 20, com a composição de tosca toada intitulada No Sertão - constitui um gênero por si só. Sua obra pode ser dividida em três vertentes: as canções praieiras, os sambas buliçosos cheio de requebros e os sambas-canções. Estes brotaram com mais assiduidade a partir dos anos 40, quando Caymmi já estava ambientado no Rio de Janeiro da fase pré-Bossa Nova. Mas, já em 1932, o compositor criava Adeus, seu primeiro samba-canção, antecipando o apego ao gênero quando veio para o Rio, em 1938. Toda a obra de Dorival Caymmi prima pelo requinte e exala uma modernidade que já estava em intuitiva sintonia com as conquistas estilísticas da bossa hoje cinqüentenária (não por acaso, João Gilberto sempre cantou os sambas do autor de Saudade da Bahia e Samba da Minha Terra). Mas requinte, no caso de Caymmi, nunca foi sinônimo de rebuscamento. Seu cancioneiro ostenta a simplicidade sofisticada somente alcançada pelos gênios. Dentro desta obra atemporal, os temas praieiros são especialmente originais com suas imagens poéticas que descrevem todo o encanto do mar através de versos minimalistas, exatos. São nas canções praieiras que a voz grave de Caymmi - doce e profunda como o próprio mar - se revela mais sedutora, carregada de aura de ancestralidade que confere ao compositor baiano um status de quase divindade. São nas canções marinhas que o violão de Caymmi - aprendido na juventude de forma autodidata - se revela especialmente inventivo. Em O Mar, uma das várias obras-primas do compositor no gênero, tal violão parece reproduzir o movimento sinuoso da maré. Coisa de gênio...

Blog Notas Musicais
- Por Mauro Ferreira

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